QUAIS MUDANÇAS A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
TROUXE DE IMEDIATO PARA O PAÍS?
A
proclamação da Independência brasileira, em 7 de setembro de 1822, foi um passo
decisivo para o início da organização do estado brasileiro. "Significou
soberania para que o país pudesse estabelecer suas normas políticas e sua
administração pública. Tanto é que dois anos depois, o Brasil já tinha sua
primeira constituição", FERRETTI explica Carla Ferretti, professora de
História do Brasil da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC
Minas).
A
independência, no entanto, não resultou em transformações políticas profundas,
nem tampouco sociais, porque D. Pedro já governava o país desde que D. João VI
havia voltado para Portugal. "Na verdade foi uma independência sem muitas
mudanças no quadro político e social do país", afirma a
historiadora.
A HISTÓRIA DO BRASIL LOGO APÓS A
INDEPENDÊNCIA
Após 21 meses de guerra, Dom Pedro I garantiu a unidade
do território. Até na moda, se valorizava a identidade do país. O brasileiro
descobriu o duplo emprego e a primeira Constituição lhe garantiu a liberdade de
culto e de imprensa
Perto
das 16h30 de 7 de setembro de 1822, um rapaz de 23 anos alcançava o alto de uma
colina ao lado do riacho Ipiranga, nos arredores da vila de São Paulo, seguido
de alguns acompanhantes. Montado numa mula, coberto de poeira e com as botas
sujas de lama. O alferes Francisco de Castro Canto e Melo, que vinha de São
Paulo com notícias dramáticas, alcançou a comitiva, prestes a retomar o curso.
O
sucessor do trono português não podia esperar novidade pior. Lisboa havia
cassado sua regência sobre a colônia e anulava suas decisões anteriores. Um
membro da comitiva, o padre Belchior Pinheiro de Oliveira, relataria quatro
anos depois o que viu naquela tarde: "Dom Pedro, tremendo de raiva,
arrancou das minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-os e os deixou na
relva. (...) Caminhou alguns passos, silenciosamente. De repente, estancou já
no meio da estrada, dizendo-me: ‘(...) As cortes me perseguem, chamam-me de rapazinho,
de brasileiro. Pois verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante
estão quebradas as nossas relações. Nada mais quero com o governo português e
proclamo o Brasil, para sempre, separado de Portugal’". Minutos depois,
diante da guarda de honra que o esperava mais à frente, desembainhou a espada
para determinar:
"Será nossa divisa de ora em diante: INDEPENDÊNCIA OU MORTE!",
descreveu o chefe da guarda, o coronel Manuel Marcondes de Oliveira Melo.
Poucos meses depois, nas principais cidades
do novo país, muitos homens começaram a mudar alguns de seus hábitos.
O deputado baiano Cipriano Barata, por
exemplo, passou a se vestir exclusivamente de algodão brasileiro e a usar
chapéus feitos de palha de carnaúba - no que foi rapidamente imitado. Os
nacionalistas mais empolgados penteavam o cabelo de forma a deixar uma risca
definida no meio da cabeça. Era a chamada "ESTRADA DA LIBERDADE", uma forma de simbolizar os caminhos
abertos pela Independência. O uso do cavanhaque, incomum entre os portugueses,
também foi adotado para marcar diferença. Os
modismos foram a vitrine mais singela das transformações na vida nacional -
iniciadas, é verdade, em 1808, após o desembarque da família real.
Quando
Dom Pedro I deixou o Rio de Janeiro, em 1831, o soberano havia legado uma nação
ainda turbulenta politicamente, mas já estabelecida como Império do Brasil. O
cenário que encontrou às vésperas do Grito do Ipiranga, escreve Laurentino
Gomes em 1822, indicava que o país de 4,5 milhões de habitantes "tinha tudo para dar errado: de cada
três brasileiros, dois eram escravos, negros forros, mulatos, índios ou
mestiços. Era uma população pobre e carente de tudo. O medo de uma rebelião
escrava pairava como um pesadelo sobre a minoria branca. Os analfabetos somavam
mais de 90% dos habitantes".
Em importantes cidades, a novidade significou a
realização literal do lema "INDEPENDÊNCIA OU MORTE". Nas ruas,
defensores do Brasil e de Portugal se estranhavam e, não raro, discutiam e se
agrediam. Em alguns lugares, era preciso ter coragem para aderir à onda do
cavanhaque.
Em
Salvador, em 1824, um padre se recusou a prosseguir com o cortejo fúnebre
enquanto o defunto não fosse barbeado. Bahia, Piauí e outras províncias pegaram
em armas para garantir a autonomia brasileira e a unidade do território
nacional - desfecho diferente do que ocorreu nas colônias vizinhas, que
acabaram fragmentadas. A adesão ao comando do imperador, porém, não foi
automática em todas as regiões. Rachas provincianos somavam-se à luta com os
portugueses. Somente Rio, São Paulo e Minas Gerais aceitaram de pronto as
ordens de Dom Pedro.
A
Guerra da Independência, iniciada em fevereiro de 1822, durou 21 meses e matou
de 2 a 3 mil pessoas. "Em 1825, o
governo brasileiro sequestrou os bens de portugueses que ainda contestavam a
independência no Rio, na Bahia, em Pernambuco, no Maranhão e no Grão-Pará. E os
intimou a deixar o país", diz Isabel Lustosa, historiadora ligada à
Fundação Casa de Rui Barbosa.
O confronto acabou de afundar as finanças quase falidas do novo governo,
limitando investimentos urgentes e gerando inflação. Entre 1825 e 28, ela
dobrou. Só a dívida externa superava 1 bilhão de reais em valores atualizados.
A
infraestrutura das províncias mais afastadas da capital não tinha mudado muito
desde a chegada de dom João. Ainda se
dormia em redes e esteiras, se comia com a mão e se andava em ruas escuras e
estreitas - mesmo no Rio de Janeiro, a iluminação a gás só estrearia em
1860. Mas as diferentes regiões já tinham mais contato com os acontecimentos no
centro de poder. Dom Pedro I continuou a abrir estradas, que passaram a ligar a
Bahia a Pernambuco, Minas Gerais a Goiás, o Grão-Pará ao Maranhão.
Nas
maiores cidades, uma nova classe de trabalhadores se desdobrava com mais de uma
ocupação - Barbeiros eram músicos nas horas vagas, pedreiros cortavam cana,
advogados mantinham lojas, médicos davam aulas.
As mulheres
cozinhavam e costuravam para a família e ainda vendiam nas ruas quitutes,
toalhas e roupas com a ajuda de um ou dois escravos. "A Independência dá
um novo dinamismo às províncias. As pessoas têm uma grande mobilidade social,
econômica e cultural.
Escravos
e livres se movimentam muito e exercem atividades econômicas variadas. Surgiu uma primeira geração de ex-escravos
livres. E eles, em especial as mulheres, ganharam um grande poder com a
possibilidade de se casar com brancos e com a liberdade para exercer diversas
atividades econômicas simultâneas", diz Eduardo Franco Paiva, historiador
e professor da UFMG. No Sudeste, as
indústrias incipientes ganharam fôlego - especialmente fábricas de barcos,
pólvora e tecidos. A produção de algodão, café e gado ocupava cada vez mais
espaço, em detrimento do açúcar e da mineração. Mas as transformações mais
radicais aconteceram mesmo na sede do Império: o Rio de Janeiro.
A CONSTITUIÇÃO
O Primeiro Reinado, claro, foi um período de intensa
atividade política.
A
elite se dividia em várias correntes, a começar por monarquistas e
republicanos. A Assembleia Constituinte, instalada em maio de 1823, seria
dissolvida em novembro, mas, em 1824, o imperador promulgou a primeira
Constituição do país. O Poder Moderador dava a ele autoridade sobre os demais
poderes, mas a Carta garantiu liberdade de culto, de imprensa e deu outro
status à figura do eleitor.
Homens
maiores de 25 anos, livres, alfabetizados e com renda de 100 mil-réis escolhiam
os cidadãos que podiam votar e ser votados desde que atendessem a certos requisitos.
Os religiosos seriam valorizados. Na década de 1820, eles eram 23% de todos os
deputados.
As
discussões a respeito dos rumos do novo país não ficavam restritas às elites. "A
população estava longe de estar a reboque das camadas dirigentes", escrevem
os historiadores Gladys Sabina Ribeiro e Vantuil Pereira em O Brasil Imperial:
"O povo foi ator político fundamental na trama do Primeiro Reinado, tanto
por meio de revoltas ou burburinhos quanto usando mecanismos formais, como
petições, queixas e representações".
Os
debates da constituinte foram acompanhados por populares, que gritavam palavras
de ordem pedindo direitos civis e apresentavam por escrito centenas de
sugestões aos deputados. Com o desmonte da assembleia, o intendente de polícia
Estevão Ribeiro de Resende mandou seus homens às ruas para apreender os
panfletos com chamados à revolução.
O SUCESSOR
Dom
Pedro I indicou imperador o filho de 5 anos e deixou como tutor um dos patronos
da nação, José Bonifácio. O Brasil mergulharia numa década de revoluções e
turbulências, até que dom Pedro II assumisse o cargo e garantisse a
estabilidade política, não alcançada pelo pai. Com ele, despontava uma nação
com identidade própria. Dali em diante, a verdadeira transformação ocorreria
com o fim da escravidão, em 1888. No ano seguinte, seria proclamada a
República.
Estudo dirigido por: Alex Santiago Duarte
Bibliografia
Cordeiro, T. (18 de abril de 2012). Aventuras da
História - A História do Brasil logo após a Independência. Acesso em 06
de setembro de 2014, disponível em Guia do Estudante:
http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/historia-brasil-logo-independencia-682324.shtml
Costa, R. (14 de abril de 2012). Gestão
Escolar - Ensino Fundamenal 2 - História - História das representações da
cultura e das relações de poder. Acesso em 05 de 09 de 2014, disponível
em Revista Nova Escola:
http://revistaescola.abril.com.br/historia/fundamentos/quais-mudanças-imdependencia-brasil-trouxe-imediato-pais-496325.shtml.