A revista Veja - Edição 2011, de especial com Anderson Schineider/WPN,
apresenta
a dialética Brasileia da política racial no sistema de cotas,
quando tenta classificar pessoas utilizando critérios de morfológicos de cor,
sem levar em consideração outros atenuantes, sociais, econômicos
que sustentam
discriminação racial e por classe no país.
Gêmeos Alex e Alan Teixeira da Cunha, filhos de pai negro e mãe branca, tornam-se alvo de polemica ao serem classificados um como negro e outro como branco, no processo seletivo da Universidade Federal de Brasília, é uma prova dos perigos em tentar classificar as pessoas usando características morfológicas como critério racial, em várias partes do mundo foi tentado, mas não deu certo, estas práticas sustentaram ideologias que fundamentaram ideais nazistas e o apartheid sul-africano, criando campos de concentração e guetos. Disponível em: http://veja.abril.com.br/060607/p_082.shtml. |
"No
início de maio de 2007, os estudantes Alan Teixeira da Cunha, de 18 anos, e seu
irmão gêmeo, Alex, foram juntos à Universidade de Brasília (UnB) para se
inscrever no vestibular. Visto que têm pele morena, eles optaram disputar o
concurso por meio do sistema de cotas raciais. Desde 2004, a UnB – e outras 33
universidades do país – reserva 20% de suas vagas a alunos negros e pardos que
conseguem a nota mínima no exame. Alan e Alex são gêmeos univitelinos, foram
gerados no mesmo óvulo e, fisicamente, são idênticos. Eles se inscreveram no
sistema de cotas por acreditar que se enquadram nas regras, já que seu pai é
negro e a mãe, branca. Seria de esperar que ambos recebessem igual tratamento.
Não foi o que aconteceu. Os "JUÍZES
DE RAÇA" olharam as fotografias e decidiram: Alex é branco e Alan
não. Alan, que quer prestar vestibular para Educação Física, foi
classificado como preto na subcategoria dos pardos e pode se beneficiar do
sistema de cotas. Alex, que pretende cursar Nutrição, foi recusado. "NÃO SEI COMO ISSO É POSSÍVEL, JÁ QUE
EU E MEU IRMÃO SOMOS IGUAIS E TIRAMOS A FOTO NO MESMO DIA", diz Alex,
que recorreu da decisão”.
(ZAKABI & CAMARGO,
2011 ).
Disponível em: http://veja.abril.com.br/060607/p_082.shtml.
São vários tipos de exclusão
que a sociedade não branca vem sofrendo pela política não racista
brasileira, causando uma dialética encoberta por práticas excludentes
e discriminatórias, assegurando uma falsa crença que não
existe preconceito no país. É notório avaliar que estas práticas
sociais fazem parte de ideologias segregacionistas que classificam pessoas e as
manipulam a ocuparem segmentos sociais mais baixos
e menos privilegiados. Seguindo esta hipótese, como aluno de Curso de
Pós Graduação de Gestão em Politicas Públicas em Gênero e Raça / GPP- GeR, e a
partir das discussões em torno de: HEILBRON,2010 - que discute as
questões de gênero e raça, seus conceitos e as interfaces nos meios sociais, é
correto pensar em hierarquias de classes e culturas, para sustentar segmentos
da pirâmide social brasileira. Ao analisar que o Curso de Educação Física
faz parte do sistema de licenciaturas que servem para formação de professores,
uma categoria universitária popular no aspecto de ascensão social no país, com bases
filosóficas é correto pensar que o Curso de Nutrição, é destinado pessoas voltadas á área em torno
das ciências médicas que sustentam uma classe branca e privilegiada
no país, assim entramos no contexto social, podendo também concluir que
a decisão em classificar um gêmeo no Curso de Educação
Física como negro e o outro como Branco no Curso de Nutrição, usando o critério
apenas da morfologia, entra nos conceitos que sustentam ideais
profissionais que asseguram a submissão e o controle social, através de acesso e
meios que promovem uma classe em detrimento a exclusão da outra.
Ao classificar
um gêmeo em cor negra, para o Curso de Educação Física, assegurou indiretamente uma possibilidade de imersão no curso de
nível superior dentro de um contexto profissional menos privilegiado, não
causando apelo representativo na manutenção do "STATUS QUO" social, como professor estaria incluso na margem populacional brasileira voltada para cursos de meio período, variando aos turnos noturno ou vespertino, com interesse da população que necessita de qualificação universitária para se inserir no mercado
de trabalho, ficando inserido em níveis salariais voltados para a classe,
ficando preso a academias e escolas. Em contra partida ao negar a política
de cotas e colocar o outro irmão, no processo
seletivo na concorrência universal de vagas para o Curso de Nutrição, implanta as barreiras
invisíveis que sustentam profissões para uma determinada classe branca,
que usufrui de cursos de período integral, favorecendo segmentos da área das
especialidades médicas para a população bem sucedida, oriunda de escolas
particulares com grande eficiência pedagógica e intelectual.
Acaba por estimular a exclusão, sustentando profissões que exercem apelo
social, nível salarial e carga horária flexível para determinados
alunos oriundos de classes bem favorecidas e profissões á nível técnica, de apelo popular, como poucas possibilidades salariais e espaços restritos de atuação para uma parcela da sociedade mais vulnerável. Os profissionais
do segmento nutricional se enquadra nos mesmos privilégios da classe médica, que se insere
para pessoas vindas de determinada parcela da sociedade que
possui características comuns: ricas e brancas. Esta profissão pode
ser exercida em hospitais, clínicas especializadas, espaços públicos, espaços próprios entre tantos outros, podendo ter variabilidade de salarial, demanda de serviço e flexibilidade social, faz parte do ideal de vida de uma
população que mantém seus privilégios.
O preconceito brasileiro
sofre uma influência complexa e dinâmica. A raça na perspectiva social,
politica e histórica, é uma categoria que aloca indivíduos no mesmo espaço
social, não possui bases biológicas, mas, existência social do ponto de vista
simbólico, impactando na maneira como as pessoas se relacionam e constroem
hierarquias sociais. (HEILBORN, 2010). O preconceito baseado ao estigma da aparência
física negroide associa a escravidão, justificando a posição de subordinado,
ideologias que traços físicos brancos são valorizados sem questionar da origem,
e ao “considerar que a maioria da população negra é pobre,
levou muitos pesquisadores a interpretar como preconceito de classe.” (Nogueira
apud HEILBRON, 2010).
A assimetria do preconceito no Brasil nos leva a dialética
de afirmar um não racismo, contudo mascarado por uma cortesia superficial que
encobre atitudes e comportamentos discriminatórios. “A raça e a classe são constituídas
simultaneamente e reciprocamente na dinâmica das relações sociais, jogos das
forças sociais.” (IANNI, 2004, p.147). Neste contexto o
preconceito racial e o de classe, geram discriminação, intolerância,
desigualdades de acesso aos direitos sociais, políticos, culturais, jurídicos e
violência nas diversas manifestações. As cidades brasileiras são frutos de um
processo histórico de má distribuição de renda, criminalização da pobreza e o
preconceito é um instrumento que associa desigualdade racial e classe causando
vários distúrbios sociais.
Texto de Rosana Zakabi e Leoleli Camargo
Revista Veja - Edição
2011
Especial: Gêmeos
idênticos – para UnB um é negro outro é branco.
Acesso em 17 de junho
de 2014 – Disponível em: http://veja.abril.com.br/060607/sumario.shtml
"OS
GENES QUE DETERMINAM A COR DA PELE DE UMA PESSOA SÃO UMA PARTE ÍNFIMA DO
CONJUNTO GENÉTICO HUMANO – APENAS SEIS DOS QUASE 30.000 QUE POSSUÍMOS", diz
a geneticista Maria Cátira Bortolini, da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Em parceria com o geneticista mineiro Sérgio Pena, Maria Cátira é autora
de um estudo recente que mostra que os negros brasileiros por parte de pai têm
em média mais genes europeus do que africanos. Sérgio Pena, por seu turno,
divulgou outro estudo, feito em parceria com a BBC Brasil, mostrando que várias
celebridades negras brasileiras também têm forte ascendência europeia. "ESSES ESTUDOS MOSTRAM QUE É
IMPOSSÍVEL DIVIDIR A HUMANIDADE EM RAÇAS", diz Pena. O grande
geneticista italiano Luca Cavalli-Sforza, em seu monumental estudo sobre as
raças humanas lançado em 1995, resumia: "NÃO
É QUE TODOS OS SERES HUMANOS SEJAM IGUAIS, MAS AS VARIAÇÕES DENTRO DE UMA MESMA
COMUNIDADE SÃO TÃO GRANDES QUANTO ENTRE COMUNIDADES DIFERENTES".
A diferença de cor de pele é um fenômeno relativamente
recente na história da humanidade. Quando o Homo sapiens surgiu, há
200.000 anos, todos tinham a pele negra e habitavam a África. À medida que
foram se espalhando pelo mundo, as populações se adaptaram aos novos ambientes.
Os cientistas acreditam que a seleção natural exercida nesses ambientes tenha
dado origem às diferentes cores de pele e características anatômicas que
distinguem as raças. Na África, a pele escura do ser humano foi preservada para
protegê-lo do alto grau de radiação ultravioleta do sol. O grupo que migrou
para o norte da Europa sofreu uma pressão seletiva no sentido do clareamento da
pele para aproveitar melhor o sol fraco e sintetizar a vitamina D, essencial
para os ossos. Toda essa diferenciação no tom de pele ocorreu nos últimos 20.000
anos, segundo geneticistas. O Brasil, que tinha o privilégio de ser
oficialmente cego em relação à cor da pele de seus habitantes, infelizmente
corre o risco de ser mergulhado no ódio racial.
A discriminação do diferente ou estrangeiro é tão antiga
quanto a civilização. Os gregos viam com desprezo os estrangeiros e os chamavam
de "bárbaros" – significando "aqueles que gaguejam" –, por
não saberem falar grego. No século XX, a discriminação racial se amparou no
raciocínio de cientistas, sociólogos e pensadores hoje relegados à lata de lixo
da história. Em 1883, o inglês Francis Galton criou o conceito de eugenia, que
pregava o aperfeiçoamento humano através do cruzamento seletivo entre pessoas
com características desejáveis, como inteligência ou força física. Pouco antes
de Galton, disseminaram-se com sucesso as ideias do franzino e arrogante conde
francês Joseph-Arthur de Gobineau. Em seu célebre ensaio A Desigualdade
das Raças Humanas, Gobineau defendia a tese de que os alemães,
descendentes de um povo mítico, os arianos, representavam a raça suprema no
mundo moderno. Chefe da delegação francesa ao Brasil em 1869, o conde previu
que logo o país se tornaria terra despovoada em conseqüência dos casamentos
inter-raciais. Gobineau achava que negros, brancos e índios não apenas formavam
raças diferentes, mas espécies completamente distintas. Portanto, o cruzamento
entre elas produziria descendentes estéreis, como a égua e o jumento resultam
na mula. Além de pisotear a Constituição, tratando negros e brancos de
forma desigual, projetos NESTES SEGMENTOS CIMA CITADOS de separar os
brasileiros e definir direitos com base na "raça" é também um
disparate científico.
Autor e Pesquisador: Alex Santiago Duarte
REFERÊNCIAS:
HEILBORN, ARAÚJO &
BARRETO. Maria Luiza, Leila & Andreia. Gestão de Políticas Públicas de
Gênero e Raça / GPP – GeR: móduloIII. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília:
Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2010.
IANNI, Octavio. A dialética
da globalização. IN: Teorias da Globalização. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2004.
ZAKABI
& CAMARGO, Rosana
& Leoleli. Especial: Gêmeos idênticos – para UnB um é negro outro é
branco. Revista Veja - Edição 2011. Acesso em 17 de junho de 2014, 09h02min –
Disponível em: http://veja.abril.com.br/060607/sumario.shtml
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