Neste ano de 2014, estamos
vivendo um momento especial no Brasil. Esses tempos de Copa do Mundo de Futebol
nos remetem ao passado, em outra copa do mundo, mais precisamente o dia 16 de
julho de 1950, quando ocorria a final da Copa no Brasil, onde se enfrentaram a
seleção uruguaia e a seleção brasileira.
A expectativa era grande em
torno do Brasil, que só precisava de um empate (Perdigão, 2000, Nogueira et al,
1994). Entretanto, mesmo diante da vantagem do empate, o Brasil perdeu o jogo
para o Uruguai, estabelecendo o que foi uma das maiores e inesquecíveis decepções
que o brasileiro enfrentou. Em meio à
decepção foram eleitos como culpados, pela derrota, três atletas negros da
seleção (Barbosa, Juvenal e Bigode) (Rodrigues Filho, 1964), exacerbando o sentimento
de racismo no Brasil.
O livro de Mário Filho,
"O negro no futebol brasileiro", publicado em sua primeira edição em
1947 e reeditado em 1964, foi considerado, até muito recentemente, uma fonte de
dados sobre o passado do futebol brasileiro e suas relações sociais. Na segunda
edição, as narrativas sobre a derrota, de 1950 ganhou a versão
"oficial" de prestígio (Soares, 1998). O racismo, cultivado e
denunciado pela reedição de 1964, foi reforçado quando os culpados da derrota
surgiram: Barbosa, Bigode e Juvenal. Mário Filho escolheu estes três jogadores
para provar a existência do preconceito racial no futebol e chamou esse
processo de intensificação do racismo.
Autores como DaMatta,
(1982), Vogel, (1982), Gordon Júnior, (1996) destacam que a ascensão do racismo
descrito por Mário Filho revitaliza as
teorias de um Brasil de inferioridade racial. De acordo com os autores, os sentimentos
racistas que surgiram à época, seria uma evidência empírica de que o destino da
sociedade brasileira estava condenado ao fracasso por causa de sua constituição
racial.
Entende-se que dois mundos
coexistem na memória coletiva da derrota 1950: o drama, no nível simbólico da
cultura que revela a existência do racismo na sociedade brasileira e a
"temporalidade do evento", com aspectos próprios de um jogo de
futebol e, portanto, as razões da derrota são restritas à esfera do jogo (Damo,
2000).
ORA DISFARÇADO DE DIFERENÇA DE CLASSES,
ORA DISFARÇADO PELO RACISMO AMIGÁVEL,
MAS SEMPRE PRESENTE,
A ESPREITA,
SÓ ESPERANDO O MOMENTO CERTO
PARA RESSURGIR.
Autora
e Pesquisadora: Maria Magareth Cancian Roldi
BIBLIOGRAFIA CITADA
DAMO, A. S. Futebol e identidade social: uma leitura antropológica das rivalidades entre torcedores e clubes. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002.
GORDON JÚNIOR, C. Eu já fui preto e sei o que é isso: história social dos negros no futebol brasileiro: segundo tempo. In: Pesquisa de campo. Rio de Janeiro: Editora da UERJ, 1996. p. 65–78.
NOGUEIRA, A.; SOARES, J. & MUYLAERT, R. A Copa que ninguém viu e a que não queremos lembrar. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
PERDIGÃO, P. A anatomia de uma derrota. São Paulo: L&PM, 2000.
RODRIGUES FILHO, M. O negro no futebol brasileiro. 4. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 2003.
SOARES, A. J. Futebol, raça e nacionalidade: releitura da história oficial. 353 f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação Física, Universidade Gama Filho. Rio de Janeiro, 1998.
VOGEL, Arno. O momento feliz - Reflexões sobre o futebol e o ethos nacional. In: DAMATTA, R. Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982. p. 75 – 115.
Nenhum comentário:
Postar um comentário