segunda-feira, 23 de junho de 2014

FIQUE LIGADO NA COPA DO BRASIL



Neste ano de 2014, estamos vivendo um momento especial no Brasil. Esses tempos de Copa do Mundo de Futebol nos remetem ao passado, em outra copa do mundo, mais precisamente o dia 16 de julho de 1950, quando ocorria a final da Copa no Brasil, onde se enfrentaram a seleção uruguaia e a seleção brasileira.

A expectativa era grande em torno do Brasil, que só precisava de um empate (Perdigão, 2000, Nogueira et al, 1994). Entretanto, mesmo diante da vantagem do empate, o Brasil perdeu o jogo para o Uruguai, estabelecendo o que foi uma das maiores e inesquecíveis decepções que o brasileiro enfrentou.  Em meio à decepção foram eleitos como culpados, pela derrota, três atletas negros da seleção (Barbosa, Juvenal e Bigode) (Rodrigues Filho, 1964), exacerbando o sentimento de racismo no Brasil.

O livro de Mário Filho, "O negro no futebol brasileiro", publicado em sua primeira edição em 1947 e reeditado em 1964, foi considerado, até muito recentemente, uma fonte de dados sobre o passado do futebol brasileiro e suas relações sociais. Na segunda edição, as narrativas sobre a derrota, de 1950 ganhou a versão "oficial" de prestígio (Soares, 1998). O racismo, cultivado e denunciado pela reedição de 1964, foi reforçado quando os culpados da derrota surgiram: Barbosa, Bigode e Juvenal. Mário Filho escolheu estes três jogadores para provar a existência do preconceito racial no futebol e chamou esse processo de intensificação do racismo.

Autores como DaMatta, (1982), Vogel, (1982), Gordon Júnior, (1996) destacam que a ascensão do racismo descrito por Mário Filho  revitaliza as teorias de um Brasil de inferioridade racial. De acordo com os autores, os sentimentos racistas que surgiram à época, seria uma evidência empírica de que o destino da sociedade brasileira estava condenado ao fracasso por causa de sua constituição racial.

Entende-se que dois mundos coexistem na memória coletiva da derrota 1950: o drama, no nível simbólico da cultura que revela a existência do racismo na sociedade brasileira e a "temporalidade do evento", com aspectos próprios de um jogo de futebol e, portanto, as razões da derrota são restritas à esfera do jogo (Damo, 2000).





ORA DISFARÇADO DE DIFERENÇA DE CLASSES, 
ORA DISFARÇADO PELO RACISMO AMIGÁVEL, 
MAS SEMPRE PRESENTE, 
A ESPREITA, 
SÓ ESPERANDO O MOMENTO CERTO 
PARA RESSURGIR.

Autora e Pesquisadora: Maria Magareth Cancian Roldi

BIBLIOGRAFIA CITADA

DAMO, A. S. Futebol e identidade social: uma leitura antropológica das rivalidades entre torcedores e clubes. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002.

GORDON JÚNIOR, C. Eu já fui preto e sei o que é isso: história social dos negros no futebol brasileiro: segundo tempo. In: Pesquisa de campo. Rio de Janeiro: Editora da UERJ, 1996. p. 65–78.

NOGUEIRA, A.; SOARES, J. & MUYLAERT, R. A Copa que ninguém viu e a que não queremos lembrar. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

PERDIGÃO, P. A anatomia de uma derrota. São Paulo: L&PM, 2000.

RODRIGUES FILHO, M. O negro no futebol brasileiro. 4. ed. Rio de Janeiro: Mauad, 2003.

SOARES, A. J. Futebol, raça e nacionalidade: releitura da história oficial. 353 f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação Física, Universidade Gama Filho. Rio de Janeiro, 1998.

VOGEL, Arno. O momento feliz - Reflexões sobre o futebol e o ethos nacional. In: DAMATTA, R. Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982. p. 75 – 115.







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