segunda-feira, 8 de setembro de 2014

7 DE SETEMBRO - A DATA DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL?


QUAIS MUDANÇAS A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL TROUXE DE IMEDIATO PARA O PAÍS?

A proclamação da Independência brasileira, em 7 de setembro de 1822, foi um passo decisivo para o início da organização do estado brasileiro. "Significou soberania para que o país pudesse estabelecer suas normas políticas e sua administração pública. Tanto é que dois anos depois, o Brasil já tinha sua primeira constituição", FERRETTI explica Carla Ferretti, professora de História do Brasil da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).
A independência, no entanto, não resultou em transformações políticas profundas, nem tampouco sociais, porque D. Pedro já governava o país desde que D. João VI havia voltado para Portugal. "Na verdade foi uma independência sem muitas mudanças no quadro político e social do país", afirma a historiadora. 

A HISTÓRIA DO BRASIL LOGO APÓS A INDEPENDÊNCIA
Após 21 meses de guerra, Dom Pedro I garantiu a unidade do território. Até na moda, se valorizava a identidade do país. O brasileiro descobriu o duplo emprego e a primeira Constituição lhe garantiu a liberdade de culto e de imprensa

Perto das 16h30 de 7 de setembro de 1822, um rapaz de 23 anos alcançava o alto de uma colina ao lado do riacho Ipiranga, nos arredores da vila de São Paulo, seguido de alguns acompanhantes. Montado numa mula, coberto de poeira e com as botas sujas de lama. O alferes Francisco de Castro Canto e Melo, que vinha de São Paulo com notícias dramáticas, alcançou a comitiva, prestes a retomar o curso.
O sucessor do trono português não podia esperar novidade pior. Lisboa havia cassado sua regência sobre a colônia e anulava suas decisões anteriores. Um membro da comitiva, o padre Belchior Pinheiro de Oliveira, relataria quatro anos depois o que viu naquela tarde: "Dom Pedro, tremendo de raiva, arrancou das minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-os e os deixou na relva. (...) Caminhou alguns passos, silenciosamente. De repente, estancou já no meio da estrada, dizendo-me: ‘(...) As cortes me perseguem, chamam-me de rapazinho, de brasileiro. Pois verão agora quanto vale o rapazinho. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações. Nada mais quero com o governo português e proclamo o Brasil, para sempre, separado de Portugal’". Minutos depois, diante da guarda de honra que o esperava mais à frente, desembainhou a espada para determinar:

 "Será nossa divisa de ora em diante: INDEPENDÊNCIA OU MORTE!", descreveu o chefe da guarda, o coronel Manuel Marcondes de Oliveira Melo.


MODA TUPINIQUIM

Poucos meses depois, nas principais cidades do novo país, muitos homens começaram a mudar alguns de seus hábitos.

 O deputado baiano Cipriano Barata, por exemplo, passou a se vestir exclusivamente de algodão brasileiro e a usar chapéus feitos de palha de carnaúba - no que foi rapidamente imitado. Os nacionalistas mais empolgados penteavam o cabelo de forma a deixar uma risca definida no meio da cabeça. Era a chamada "ESTRADA DA LIBERDADE", uma forma de simbolizar os caminhos abertos pela Independência. O uso do cavanhaque, incomum entre os portugueses, também foi adotado para marcar diferença. Os modismos foram a vitrine mais singela das transformações na vida nacional - iniciadas, é verdade, em 1808, após o desembarque da família real.
Quando Dom Pedro I deixou o Rio de Janeiro, em 1831, o soberano havia legado uma nação ainda turbulenta politicamente, mas já estabelecida como Império do Brasil. O cenário que encontrou às vésperas do Grito do Ipiranga, escreve Laurentino Gomes em 1822, indicava que o país de 4,5 milhões de habitantes "tinha tudo para dar errado: de cada três brasileiros, dois eram escravos, negros forros, mulatos, índios ou mestiços. Era uma população pobre e carente de tudo. O medo de uma rebelião escrava pairava como um pesadelo sobre a minoria branca. Os analfabetos somavam mais de 90% dos habitantes".

CONFRONTO

Em importantes cidades, a novidade significou a realização literal do lema "INDEPENDÊNCIA OU MORTE". Nas ruas, defensores do Brasil e de Portugal se estranhavam e, não raro, discutiam e se agrediam. Em alguns lugares, era preciso ter coragem para aderir à onda do cavanhaque.

Em Salvador, em 1824, um padre se recusou a prosseguir com o cortejo fúnebre enquanto o defunto não fosse barbeado. Bahia, Piauí e outras províncias pegaram em armas para garantir a autonomia brasileira e a unidade do território nacional - desfecho diferente do que ocorreu nas colônias vizinhas, que acabaram fragmentadas. A adesão ao comando do imperador, porém, não foi automática em todas as regiões. Rachas provincianos somavam-se à luta com os portugueses. Somente Rio, São Paulo e Minas Gerais aceitaram de pronto as ordens de Dom Pedro.
A Guerra da Independência, iniciada em fevereiro de 1822, durou 21 meses e matou de 2 a 3 mil pessoas. "Em 1825, o governo brasileiro sequestrou os bens de portugueses que ainda contestavam a independência no Rio, na Bahia, em Pernambuco, no Maranhão e no Grão-Pará. E os intimou a deixar o país", diz Isabel Lustosa, historiadora ligada à Fundação Casa de Rui Barbosa.

O confronto acabou de afundar as finanças quase falidas do novo governo, limitando investimentos urgentes e gerando inflação. Entre 1825 e 28, ela dobrou. Só a dívida externa superava 1 bilhão de reais em valores atualizados.
A infraestrutura das províncias mais afastadas da capital não tinha mudado muito desde a chegada de dom João. Ainda se dormia em redes e esteiras, se comia com a mão e se andava em ruas escuras e estreitas - mesmo no Rio de Janeiro, a iluminação a gás só estrearia em 1860. Mas as diferentes regiões já tinham mais contato com os acontecimentos no centro de poder. Dom Pedro I continuou a abrir estradas, que passaram a ligar a Bahia a Pernambuco, Minas Gerais a Goiás, o Grão-Pará ao Maranhão.
Nas maiores cidades, uma nova classe de trabalhadores se desdobrava com mais de uma ocupação - Barbeiros eram músicos nas horas vagas, pedreiros cortavam cana, advogados mantinham lojas, médicos davam aulas.
As mulheres cozinhavam e costuravam para a família e ainda vendiam nas ruas quitutes, toalhas e roupas com a ajuda de um ou dois escravos. "A Independência dá um novo dinamismo às províncias. As pessoas têm uma grande mobilidade social, econômica e cultural.
Escravos e livres se movimentam muito e exercem atividades econômicas variadas. Surgiu uma primeira geração de ex-escravos livres. E eles, em especial as mulheres, ganharam um grande poder com a possibilidade de se casar com brancos e com a liberdade para exercer diversas atividades econômicas simultâneas", diz Eduardo Franco Paiva, historiador e professor da UFMG.  No Sudeste, as indústrias incipientes ganharam fôlego - especialmente fábricas de barcos, pólvora e tecidos. A produção de algodão, café e gado ocupava cada vez mais espaço, em detrimento do açúcar e da mineração. Mas as transformações mais radicais aconteceram mesmo na sede do Império: o Rio de Janeiro.


A CONSTITUIÇÃO
O Primeiro Reinado, claro, foi um período de intensa atividade política.

A elite se dividia em várias correntes, a começar por monarquistas e republicanos. A Assembleia Constituinte, instalada em maio de 1823, seria dissolvida em novembro, mas, em 1824, o imperador promulgou a primeira Constituição do país. O Poder Moderador dava a ele autoridade sobre os demais poderes, mas a Carta garantiu liberdade de culto, de imprensa e deu outro status à figura do eleitor.
Homens maiores de 25 anos, livres, alfabetizados e com renda de 100 mil-réis escolhiam os cidadãos que podiam votar e ser votados desde que atendessem a certos requisitos. Os religiosos seriam valorizados. Na década de 1820, eles eram 23% de todos os deputados.
As discussões a respeito dos rumos do novo país não ficavam restritas às elites. "A população estava longe de estar a reboque das camadas dirigentes", escrevem os historiadores Gladys Sabina Ribeiro e Vantuil Pereira em O Brasil Imperial: "O povo foi ator político fundamental na trama do Primeiro Reinado, tanto por meio de revoltas ou burburinhos quanto usando mecanismos formais, como petições, queixas e representações".
Os debates da constituinte foram acompanhados por populares, que gritavam palavras de ordem pedindo direitos civis e apresentavam por escrito centenas de sugestões aos deputados. Com o desmonte da assembleia, o intendente de polícia Estevão Ribeiro de Resende mandou seus homens às ruas para apreender os panfletos com chamados à revolução.

O SUCESSOR

Dom Pedro I indicou imperador o filho de 5 anos e deixou como tutor um dos patronos da nação, José Bonifácio. O Brasil mergulharia numa década de revoluções e turbulências, até que dom Pedro II assumisse o cargo e garantisse a estabilidade política, não alcançada pelo pai. Com ele, despontava uma nação com identidade própria. Dali em diante, a verdadeira transformação ocorreria com o fim da escravidão, em 1888. No ano seguinte, seria proclamada a República.


 Estudo dirigido por: Alex Santiago Duarte

Bibliografia
Cordeiro, T. (18 de abril de 2012). Aventuras da História - A História do Brasil logo após a Independência. Acesso em 06 de setembro de 2014, disponível em Guia do Estudante: http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/historia-brasil-logo-independencia-682324.shtml
Costa, R. (14 de abril de 2012). Gestão Escolar - Ensino Fundamenal 2 - História - História das representações da cultura e das relações de poder. Acesso em 05 de 09 de 2014, disponível em Revista Nova Escola: http://revistaescola.abril.com.br/historia/fundamentos/quais-mudanças-imdependencia-brasil-trouxe-imediato-pais-496325.shtml.


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